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Coronavírus: Obesidade é grupo de alto risco. Entenda!

10 abril Redação DBV - Dicas Bem Viver 0 Comments


Idosos não são os únicos mais vulneráveis a covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. Pessoas com pelo menos um fator de risco associado, as chamadas comorbidades, também fazem parte desse grupo de risco.

E entre as doenças pré-existentes mais prevalentes em pacientes com o vírus, estão hipertensão, diabete melitus, doenças coronarianas e vasculares cerebrais, apontam estudos realizados na China.

Neste sentido, a obesidade - com as quais muitas dessas enfermidades estão intimamente ligadas - pode acabar se tornando um grande fator complicador para quem contrai o coronavírus, apontam especialistas.

Como resultado, países onde grande parte da população tem excesso de peso, como o Brasil, têm mais chances de registrar um maior número de mortes, acrescentam.

Segundo um levantamento recente do Ministério da Saúde, um em cada cinco brasileiros (19,8%) é obeso. Além disso, mais da metade da população (55,7%) tem excesso de peso.

De acordo com a pesquisa, houve um aumento de 67,8% no número de obesos nos últimos treze anos, saindo de 11,8% em 2006 para 19,8% em 2018. A alta foi maior entre os adultos de 25 a 34 anos e 35 a 44 anos, com 84,2% e 81,1%, respectivamente.



Em relação à diabetes, 7,7% da população adulta brasileira foi diagnosticada com a doença em 2018, um crescimento de 40% em relação ao ano de 2006 (5,5%). As mulheres apresentam maior percentual de diagnóstico (8,1%) do que em homens 7,1%. Em ambos os sexos, quanto mais jovem, menor o porcentual.

Os dados são Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2018.

O parâmetro para avaliar a obesidade e o excesso de peso, segundo o Ministério da Saúde, é o Índice de Massa Corporal (IMC). Por meio dele, diz a pasta, "é possível classificar um indivíduo em relação ao seu próprio peso, bem como saber de complicações metabólicas e outros riscos para a saúde".

De acordo com o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde sobre covid-19, divulgado na segunda-feira (6 de abril), oito em cada dez brasileiros (78%) que morreram da doença apresentavam pelo menos um fator de risco associado.

A obesidade, por si só, não foi o principal fator de risco para pacientes acima de 60 anos - grupo que compõe a maioria dos mortos -, embora apareça na lista de comorbidades.

Mas doenças normalmente resultantes dela, sim.

Cardiopatias foram, por exemplo, a condição mais prevalente ligada às mortes investigadas entre aqueles que tinham mais de 60 anos (81% do total de mortos). Nessa mesma faixa etária, em segundo lugar vêm os diabéticos, seguido por quadros de pneumopatia e doenças neurológicas.

Entre os mais jovens, as comorbidades mais predominantes foram, nessa ordem: diabetes, cardiopatia e obesidade.



Doenças cardíacas

Nos Estados Unidos, o país que lidera o ranking mundial de obesidade, um número considerável dos mortos por covid-19 era obeso. O mesmo acontece no México, que ocupa a vice-liderança.

Conscientes dessa realidade, as autoridades de saúde de ambos os países alertaram sobre o problema no início da crise do coronavírus.

"Temos uma população com saúde cronicamente deteriorada, pesam contra nós a magnitude da epidemia de obesidade, sobrepeso, diabetes e, com elas, um conjunto de doenças crônicas como a hipertensão, que estão associadas às mesmas causas", disse o subsecretário de saúde do México, Hugo López-Gatell.

"O México, diferentemente de outros países, tem uma taxa muito alta de diabetes mellitus tipo 2, uma taxa de obesidade associada à hipertensão, com problemas respiratórios (...) para que pudéssemos ver mais casos aqui por esse motivo", concordou Cristian Morales, representante da OPAS/OMS no México.

Das quase 100 mortes no México até domingo, mais de 35% viviam com obesidade, hipertensão ou diabetes. Um grande número tinha duas ou até três comorbidades associadas.

Já nos EUA, o coronavírus tem sido muito mais letal em Nova Orleans, onde é registrada uma taxa de mortalidade duas vezes maior que a de Nova York, segundo a agência de notícias Reuters. E especialistas também apontam a obesidade na cidade de Louisiana como uma explicação.



Covid-19 e os obesos

"Definitivamente, é preocupante que pacientes com obesidade apresentem maior risco de complicações por infecções de covid-19", diz Salim Virani, professor da Baylor School of Medicine em Houston (EUA) à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.

A obesidade, por si só, causa um estado de inflamação crônica no corpo. Isso afeta o funcionamento das células e de suas superfícies, que interrompem sua função natural de barreira protetora e facilitam o ataque de vírus como o coronavírus.

Também tem efeitos negativos no sistema imunológico, como a diminuição da produção de proteínas vitais para defender o corpo contra possíveis infecções.

Como explica o cirurgião bariátrico mexicano José Antonio Castañeda, o coronavírus entra no corpo aderindo à enzima conversora da angiotensina, localizada principalmente nos pulmões, rins e vasos sanguíneos.

O nível dessa enzima é aumentado em pacientes com diabetes, o que facilita a entrada e a infecção do novo coronavírus neles.

Virani, membro do Colégio Americano de Cardiologia, lembra ainda que quem sofre de obesidade severa pode ter os pulmões afetados para respirar normalmente, ou mesmo sofrer de apneia do sono e problemas de oxigenação.

Mark Lazarovich, especialista em imunologia do Centro Médico da Universidade de Vermont, nos EUA, destaca que alguns estudos sobre os efeitos da obesidade na gripe sugerem que esse fator de risco pode prolongar o tempo que os vírus permanecem em nossos corpos.

"Isso potencialmente aumenta o tempo que eles podem espalhar a doença para outras pessoas e também prolonga o tempo de internação dos casos mais graves nos hospitais", diz ele à BBC News Mundo, acrescentando que a mesma lógica poderia ser aplicada ao novo coronavírus.

Castañeda, que trata pacientes obesos nos últimos 15 anos, destaca que, além de estarem no grupo dos mais vulneráveis à infecção, há ainda "o problema do quão difícil são de tratar depois de adquirir o vírus".

"São pacientes que podem passar dias ou meses tentando combater a infecção", diz.

A obesidade geralmente está por trás de muitas das condições pré-existentes que foram definidas como de alto risco para a possível disseminação do coronavírus.

Assim, é um fator de risco conhecido para o desenvolvimento de hipertensão e doenças cardiovasculares. Ao mesmo tempo, alguns estudos sugerem que pessoas obesas têm três vezes mais risco de ter diabetes.

"Essas doenças estão totalmente conectadas. Sempre andam de mãos dadas", diz Castañeda, que realizou várias cirurgias para ajudar na perda de peso de Juan Pedro Franco, um jovem mexicano que já foi considerado o homem mais obeso do mundo.

O governo mexicano estima que 90% dos casos de diabetes mellitus tipo 2 no país são decorrentes do excesso de peso e obesidade. Doenças cardíacas e diabetes são as principais causas de morte entre a população mexicana. Cenário semelhante ocorre no Brasil.



O que fazer

Ciente dessa crescente vulnerabilidade, o Instituto Mexicano de Seguridade Social fez um apelo específico para que pessoas com obesidade fiquem em casa. No México, não há toque de recolher ou quarentena obrigatória.

Além das recomendações genéricas para lavar as mãos e manter distância de outras pessoas, os especialistas lembram que esse grupo deve tomar medidas extremas de prevenção por causa de seu sistema imunológico mais fraco.

A orientação das autoridades é que essas pessoas sigam uma dieta que contribua para aumentar suas defesas e tentar ser ativas em casa, exercitando-se por pelo menos 1h por dia.

"O diabético deve verificar sua dieta e seu nível de glicose. O hipertenso verificará sua pressão e seguirá uma baixa ingestão de sal. E o paciente obeso deve começar a se conscientizar fazendo atividades físicas, começando a comer bem e cuidando de si", explica Castañeda.

"Comemos demais e nos movimentamos muito pouco", acrescenta Lazarovich.

Segundo o governo mexicano, metade das 600 mil mortes registradas a cada ano no país está relacionada à má alimentação, principalmente devido ao excesso de sal, gordura, açúcar e calorias.

Na opinião da organização mexicana El Poder del Consumidor, essas doenças pioraram no país devido ao aumento da ingestão de produtos ultraprocessados e à falta de políticas públicas para impedir esse consumo.

"As pessoas acabam responsabilizadas pelo que comem, mas, na realidade, precisamos saber quais alimentos estão disponíveis. No México, temos um excesso de oferta monstruosa e monumental de alimentos industrializados com valor nutricional muito baixo e poder calórico muito alto", afirmou López-Gatell, do Ministério da Saúde do país.

Especialistas esperam que a crise do coronavírus deixe pelo menos uma lição aprendida para a população que sofre dessas doenças.

"Por causa do que está acontecendo, acredito que muitas pessoas se conscientizarão de como prevenir essas doenças ou, se já as tiverem, começarão a tomar decisões sérias por sua saúde. Mas o que esperamos é que isso acabe", conclui Castañeda.

Com reportagem de Marcos González Díaz, da BBC News Mundo no México.